Borboleta-branca-da-Madeira. A primeira borboleta europeia a ser declarada extinta

A Grande borboleta Branca era uma espécie endémica da llha da Madeira. Foi agora considerada extinta.

Carla Quirino - RTP /
Borboleta Branca da Madeira | iNaturalista via Rewilding Portugal

A Grande Borboleta Branca da Madeira foi confirmada como extinta no mês passado quando a Lista Vermelha das Borboletas Europeias da União Internacional para a Conservação da Natureza foi publicada. 

A espécie endémica do território insular português já não era vista desde 1986.

"Das 442 espécies avaliadas, uma espécie está extinta: Pieris wollastoni - a Borboleta-branca-da-Madeira -, uma espécie restrita à ilha da Madeira (Portugal) e que não é relatada desde 1986, estando excluída de todos os cálculos percentuais subsequentes" reporta o relatório que classifica animais e plantas quanto ao estado de conservação..
"Primeira borboleta extinta na Europa"
A ausência na natureza foi confirmada por um trabalho de campo de 2022, em que vários especialistas percorreram a pé mais de 600 quilómetros a contar borboletas, resultando em "15 mil de todas as espécies" observadas.

Sérgio Teixeira, biólogo, que tem estado à frente do Programa Europeu de monitorização das borboletas da Madeira, diz que não se conhece a razão da extinção da espécie.

"É a primeira borboleta extinta na Europa" afirma o biólogo em entrevista à Antena 1.

"A borboleta desapareceu de uma forma muito súbita. Há várias teorias como um vírus introduzido por outra espécie ou parasitas, ninguém sabe muito bem", observa Sérgio Teixeira.

Borboleta Branca da Madeira | iNaturalista via Rewilding Portugal
Cleópatra ameaçada
A Lista Vermelha alerta ainda que uma outra borboleta da Madeira, a Cleópatra, está em via de extinção.

O biólogo aponta que a causa poderá dever-se a causas ambientais. 

"A falta de proteção da árvore sanguinho-da-madeira, a baixa precipitação ou no oposto, as enxurradas, que acabam por arrastar a vegetação e destruir as linhas de água" argumenta Sérgio Teixeira.

Por isso, a Cleopatra está também ameaçada "pela perda de habitat e as alterações climáticas" acrescenta.

Durante o trabalho de campo, a contagem de borboletas para esta espécie assinalou "apenas 117", das quais "só duas eram fémeas".

Porém, os incêndios, a redução de humidade ou mesmo o aumento da circulação automóvel também contribui para a ameça das espécies locais. "O número de exemplares que são mortos por veículos em movimento é cada vez maior" explica.

É uma ameaça quase invisivel mas no verão vamos às bermas de estrada, como no Paul da Serra (...) e vemos borboletas mortas por atropelamento" 

A ilha tem seis espécies e sub-espécies endémicas de borboletas, além de outras introduzidas, explica a reportagem da Antena 1
“Colapso em curso da biodiversidade”
A ONG Rewilding Portugal, cuja missão visa a conservação da natureza através de medidas que restabeleçam condições para a vida selvagem no território nacional, alerta para a perda de espécies. Apela, sobretudo, por uma ação urgente e ambiciosa dedicado ao restauro da natureza, observou em comunicado.

Perante a confirmação da extinção global da borboleta-branca-da-Madeira (Pieris wollastoni), a ONG afirma tratar-se de “um marco trágico na história natural do continente e do país, e um sinal claro do colapso em curso da biodiversidade”.

Borboleta Branca da Madeira | iNaturalista via Rewilding Portugal

“O desaparecimento da borboleta-branca-da-Madeira é um sinal claro que é urgente agir no restauro da biosfera. Restaurar a natureza exige coragem política, escala e urgência. O momento é agora”, afirmou Pedro Prata, líder de Equipa da Rewilding Portugal.

A ONG é clara no alerta: "A extinção da borboleta-branca-da-Madeira é um aviso. Cada perda representa a perda de mais um elo na teia da biosfera, tornando-a progressivamente mais frágil e menos resiliente. Se nada mudar, as extinções tornar-se-ão cada vez mais frequentes". 

No entanto, a Rewilding Portugal acredita que "ainda há tempo para inverter a trajetória, se atuarmos com determinação e visão de futuro". 

E remata: "É necessário restaurar rios, solos, zonas húmidas e florestas nativas; criar paisagens resilientes ao fogo e às alterações climáticas; e integrar as comunidades locais neste esforço coletivo, garantindo que o restauro se traduz em oportunidades sustentáveis para as pessoas e os territórios".
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